a primeira vista das coisas parece ser assim, meio ofuscada pelo brilho das cores. aos poucos, o costume do que se vê faz sua morada e tudo se volta para o que era antes. com suas formas e porquês. imagino um ser que acaba de nascer e vivencia o seu processo primitivo de contato com o mundo. desbrava, descobre, desarma e desconstrói. porque nada é igual aos olhos dos outros. eis uma das belezas do mundo, da vida. todos os dias, pela manhã, rogo por esse trâmite. como se fosse tudo pela primeira vez, desapegado dos conceitos e dos nomes. tudo em estado bruto, para se remontar e fazer do dia um tempo novo para alocar cada coisinha em seu inédito lugar.
quinta-feira, 7 de novembro de 2019
quarta-feira, 6 de novembro de 2019
o meu corpo já sente o pesar do tempo. e diz querer mais. ainda se sente jovem, esbelto e corajoso. sem renegar os cursos dos rios do tempo. sem contestar os caminhos já gastos. desfruto do corpo como verdadeira casa. a cada manhã, a cada horinha. sou pele. sou casca. sou senha. feito de códigos e palavras-chave. decifrá-los é o meu predileto desafio diário. venero os movimentos, as articulações e o sentir. no tato que me faz dançar comigo mesmo, que me faz pleonástico e eufêmico sem nada dizer. e a felicidade de me escancarar uma verdade: eu existo.
terça-feira, 5 de novembro de 2019
ontem fez sol, hoje chove. hoje faz sol, mas só chove. e nada parece ser tão real quanto o sonho que me despertou em solavanco. num susto vagaroso, ceifando a continuidade do rito do sono. desses que acontecem para semear a dúvida da existência. por um momento, achei que era o éden. luz, muita luz. um clarão imenso a dizer-me palavras bonitas, palavras de ordem, palavras do espertar. bocejos, espreguiçar em estalos. transição. e os olhos tornaram a se fechar. tentei voltar ao sonho. em vão. o calor do dia já era ímpeto, império. o frenesi pelo novo tudo comandava. e a parede na qual banhava uma fresta de sol retangular murmurava, aos gritos: acorda, acorda, acorda. entre lençóis e marcas do tempo, esqueci-me do sonho. agora é só com a realidade. os sustos são outros.
quinta-feira, 31 de outubro de 2019
não tenho muitas palavras para descrever a forma como o recife me atravessa. simplesmente me deixo ser invadido. predisponho-me permeável ao que acontece quando nele estou. não sei se pela distância, que agora se faz constante entre mim e ele. não sei se pela diferente forma de enxergá-lo enquanto lugar. não sei se pela nostalgia da antiga morada e do tanto que posso contar e rememorar sobre as suas vias de ruas e rios. ou tudo isso. ou um nada revestido de tudo isso. o fato é que me sinto impactado toda vez que o percorro - e que por ele sou percorrido. um turbilhão de sensações me acometem feito febre forte, deixando o corpo vulnerável ao que se sente sem saber exatamente o quê. arde, inquieta. a cada vez que toco o recife, sinto que adoeço de veneração e saudade. algo para o qual ainda não descobri antídoto. e que talvez permaneça por um longo tempo sem descoberta de cura. deixo o remédio para o tempo.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
domingo, 22 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
nos olhos meus
de verem um dia
o olhar mendigo
da poesia
nos olhos teus
vinicius de moraes
esse amor sobre as coisas sem nome, da falta mesmo de definição, do mistério que envolve e encanta. das palavras, doces companheiras, que me falam pelos olhos e me dizem o que jamais se diz. seguindo o coração, o meu coração, pelas terras de ninguém, para sempre voltar a enxergar a leveza que cobre esse caminho de poesia e de afeto. essas idas e vindas, esse retorno, essa vida que me engana sempre que a convém. esse olhar desabrochado e pisado que não me deixa só, nem solto, para fazer do cinza a tradução de todas as outras cores. para me fazer voltar a escrever.
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