sábado, 17 de abril de 2010

sinto. como o tanto que me chegou inúmeras vezes. num universo egoisticamente singular. a pluralidade essencial de coisas e casos não vividos. traição da memória. negação de sonho. repúdio à realidade. intensidade, eu diria. como um estado de espírito intermediário, sem fronteiras explícitas, sem arestas palpáveis, sem metades inteiras. vácuo vistoso, sagaz e intrigante. indefinível. indefinido. sentir é não só o seu próprio ato, mas um infinito de texturas que se aglomeram nas cores imperceptíveis. nas misturas. nos contextos. nas divisas. são marcas, partículas, grãos. é tudo, enfim, o que não sei agora exprimir. quando começo a socorrer-me num campo de quatro paredes, poupando vestígios de mim mesmo, chega a solidão saudável. mais saudosa do que nunca. chega como quem quer ficar. entra como quem já vai sair. devaneando palavras, com pensamentos morbidamente poéticos, o que aprendi outrora com o exercício trivial do existir: sensibilidade. exercício vão. ingênuo. pueril. cheio de pontos finais que mais parecem reticências. agora entendo, talvez, uma das premissas básicas do corpo, o social. o cordão majoritário diz que um homem deve trancar sua pele e seus sentidos na frieza do fingimento. na beleza fugaz das máscaras. na dureza de ser macho por esconder suas fraquezas. disseram-me isso e eu sequer assimilei. numa matéria só, somos dotados de uma fragilidade furtiva, alheios ao que se acontece no exterior das nossas vontades, pareando físico e psicológico entre o que se costuma chamar de coração. independente de sexo. é como um ciclo. infindável rota de um mapa errante. numa repetição atípica. numa sequência de pensamentos que se cansam de existir. assim, jamais paro de sentir.
(republicado)

Um comentário:

  1. eu precisava desse texto!
    vc conseguiu dizer tudo que eu to sentindo agora.
    perfeitamente.

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