sinto. como o tanto que me chegou inúmeras vezes. num universo egoisticamente singular. a pluralidade essencial de coisas e casos não vividos. traição da memória. negação de sonho. repúdio à realidade. intensidade, eu diria. como um estado de espírito intermediário, sem fronteiras explícitas, sem arestas palpáveis, sem metades inteiras. vácuo vistoso, sagaz e intrigante. indefinível. indefinido. sentir é não só o seu próprio ato, mas um infinito de texturas que se aglomeram nas cores imperceptíveis. nas misturas. nos contextos. nas divisas. são marcas, partículas, grãos. é tudo, enfim, o que não sei agora exprimir. quando começo a socorrer-me num campo de quatro paredes, poupando vestígios de mim mesmo, chega a solidão saudável. mais saudosa do que nunca. chega como quem quer ficar. entra como quem já vai sair. devaneando palavras, com pensamentos morbidamente poéticos, o que aprendi outrora com o exercício trivial do existir: sensibilidade. exercício vão. ingênuo. pueril. cheio de pontos finais que mais parecem reticências. agora entendo, talvez, uma das premissas básicas do corpo, o social. o cordão majoritário diz que um homem deve trancar sua pele e seus sentidos na frieza do fingimento. na beleza fugaz das máscaras. na dureza de ser macho por esconder suas fraquezas. disseram-me isso e eu sequer assimilei. numa matéria só, somos dotados de uma fragilidade furtiva, alheios ao que se acontece no exterior das nossas vontades, pareando físico e psicológico entre o que se costuma chamar de coração. independente de sexo. é como um ciclo. infindável rota de um mapa errante. numa repetição atípica. numa sequência de pensamentos que se cansam de existir. assim, jamais paro de sentir.
(republicado)
eu precisava desse texto!
ResponderExcluirvc conseguiu dizer tudo que eu to sentindo agora.
perfeitamente.