desses olhares sozinhos. que dispensam demais expressões. imprevisíveis. dos que fixam, se aprofundam. foi assim que me olhou. ela, já por volta dos sessenta. creio que me despiu, investigou-me. longamente. durante os dois segundos que nos cruzamos. um olhar seco, severo, cheio de intensidade. advertiu-me. descobriu-me. e foi cúmplice, feito a cumplicidade dos fumantes. em silêncio, no barulho. no passeio público, naquele lugar tão cheio de gente. escolheu-me ao acaso. por acaso. e carregou-me para si, sem violência, sem nada pedir. e pedia. numa passagem fria, que ardia por dentro. chegou com posse. impôs as regras. numa postura de quem clama por mais alma. com uma ternura de mãe, vaidade de mulher. chegou em mim devagar. era traço dela, essa vagarosidade. era madura. queria ter. aquela mulher, desconhecida, clandestina. que me teve, que me sentiu. na sua brevidade. no seu desconforto. na sua falsa segurança. fez o serviço, o que havia de fazer por impulso. ou por vontade, não sei. não olhou para trás, eu também não. sumiu na luz, ela, taciturna. foi-se embora com vários pedaços. e eu segui, com uma parte só de mim.
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