comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.
há certas lembranças que se mantêm à beira do esquecimento, mas que jamais se esvaem por inteiro. como as cores de um quadro bem pintado, que embora se desgastem com o tempo, permanecem em sua essência por anos a fio. entranham-se na memória e por lá constróem o emaranhado de cenas de que se serve o passado. costumam traduzir alguma espécie de importância, de teor relevante, de arquivos imprescindíveis ao sustento da alma. é o que se pode chamar de eternidade, algo que fica lá dentro, guardado, conservado, embrenhado, e que nunca nos deixa. tão bonito é quando desabrocham espontaneamente, num instante de reflexão ou mesmo de mera distração. são como pedacinhos de vida, fragmentos de respiração, de pulsação, de sentimento mesmo. o filme de cada um, a história em relevo, o enredo consumado. somos matéria em constante mutação, deixamos e recebemos. percorremos ciclos em meio a uma beleza sobre a qual não há analogia suficiente. nada seria o amanhã se não fosse o ontem. e é no pretérito que busco sentido pra continuar adiante.
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