quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

chuva de verão

uma chuva de verão: primeiro, a beleza pura rompendo o céu, esse temor respeitoso que toma conta do coração, sentir-se tão irrisório no próprio centro sublime, tão frágil e tão repleto da majestade das coisas, siderado, agarrado, radiante pela munificência do mundo; em seguida, caminhar por um corredor e, de repente, penetrar num quarto de luz. outra dimensão, certezas que acabam de nascer. o corpo já não é uma ganga, o espírito habita as nuvens, a força da água é dela, dias felizes se anunciam, num novo nascimento. depois, como as lágrimas, às vezes, quando são redondas, fortes e solidárias, deixam atrás de si uma longa praia lavada de discórdia, a chuva, no verão, varrendo a poeira imóvel é para a alma das criaturas como uma respiração sem fim.


pelo cheiro, pelo gosto, pela cor
das vozes, o silêncio
das palavras, o desfoque
e essa ausência de dor


inerte, silente, arpado
é o vento que chega
trazendo de longe
mais tempo, mais vida, mais amor

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