a casa é tua. podes ficar o tempo que te apetecer, despejar as roupas no meu armário, espalhar os teus adereços pelo banheiro, reordenar a posição das coisas na cozinha. trouxe lírios para a sala, sei que tu gostas. arejei as cortinas por causa da tua alergia, troquei os tapetes. mandei pintar as paredes do quarto em tons claros e comprei cobertores novos. a luminária ao lado do sofá pequeno é pra quando quiseres ler. o controle da tevê fica sempre na segunda gaveta do móvel cinza. há revistas em quase todos os lugares, espero que não te incomodes com o cheiro forte dos livros no escritório. quando sentires calor, há dois ventiladores no armário branco da área de serviço. podes fumar, beber e usar o telefone à vontade. podes também perambular de madrugada, seminua, pelos aposentos e pintar os teus quadros no silêncio das tardes, não há vizinhos. quando quiseres te distrair, experimenta alimentar o peixe, no aquário que fica na varanda, ou regar as duas samambaias dispostas no hall de entrada. ou se de repente te encobrir uma curiosidade sóbria acerca do meu passado, mantenho dezenas de álbuns fotográficos na parte inferior da estante que exibe os três porta-retratos no canto da sala. no mais, podes te aventurar a descobrir cada pedaço deste lugar que agora também é teu. logo encontrarás algum motivo pra não querer abandoná-lo, criando o elo mágico do cotidiano das pequenas manias. tentarei não me demorar quando das saídas habituais. ausento-me em determinados horários que, com o tempo, vais te acostumar. tenho rotina pras refeições, mas que pode ser revista ante a tua vontade. estou feliz porque vieste. na verdade, estou um pouco apreensivo com a tua chegada, faz tempo que não divido meu mundo com alguém. acho que desaprendi. mas pra todo efeito, creio que agora sou todo teu. seja bem-vinda.
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