não compreendera ainda até que ponto os dias podiam ser, ao mesmo tempo, curtos e longos. longos para viver, sem dúvida, mas de tal modo distendidos que acabavam por se sobrepor uns aos outros. e nisso perdiam o nome. as palavras ontem ou amanhã eram as únicas que conservavam um sentido pra mim.
e dizer que não sei mais, não sei onde estão as tristes coisas, as vontades incontroláveis de chorar ou de ficar só por algum período. procurei no calendário o dia em que as coisas mudaram assim tão de repente e me confundi, nunca fui bom com as datas. minha memória anda ao avesso, sobretudo para nomes e noção de tempo. esqueci, devolvi os empréstimos, rasguei algumas fotografias e vi por oito ou nove vezes o sol se pôr sucessivamente. moderei alguns vícios e repensei antigas paxões, vi que sem eles não sou nada. sinto-me chegar aos cinquenta com parcimônia e eloquencia, deixando o estrago para quando retorno aos meus vinte e poucos. parece que me filiei a algum partido novo, vesti a camiseta colorida e findei uma etapa do intensivo de psicologia. vejo inúmeras razões para abrir um vinho, fumar uns dois cigarros e dormir mais cedo do que habitualmente durmo. ainda que seja apenas um dia de início de semana. acho que estou feliz.
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